Há muito que queria um espaço assim para escrever… Aqui pretendo disponibilizar um pouco mais de tudo que vejo, penso e sinto, sem um tema pré-definido, sem regras ou metas, a não ser o simples ato de estabelecer uma comunicação mais próxima com qualquer um que se sinta impelido a ler os textos. Dito isso, vamos lá:

Acabo de lançar o meu terceiro disco; Mientras La Noche Cae está disponível nas principais plataformas de streaming, meu desejo e esperança é que chegue aos ouvidos do maior número de pessoas possível, como qualquer artista que lança um trabalho novo…

As canções deste disco saíram de gravações feitas no início dos anos 2000, realizadas por mim, pelo baterista Marcelo Masina e pelo baixista Claudio Nilson… Foram muitas horas e meses de ensaios para arranjar as músicas; felizmente, registramos muitos destes encontros e hoje podemos ter acesso a estas canções… Assim, não se perderam no tempo…

Em 2018, por conta de uma mudança de endereço, pude parar e escutar estas canções, e a minha reação foi: preciso registrá-las em disco… Assim, eu, o Marcelo Masina e o Jeffy Ferreira, baixista que faz parte da minha caminhada musical desde 2016, e que nos acompanha também no Especial que fazemos com as canções de Bob Dylan, estramos no Estúdio Dreher em Porto Alegre com o objetivo de ouvir as canções, fazer os ajustes que achássemos necessários nos arranjos, ensaiá-los, e enfim, produzirmos o que viria a se tornar um álbum de 9 canções…

Foi um processo longo, por muitos motivos… Eu precisava compor novas letras, pois as originais eram em inglês (eu havia recém chegado de uma estada de 3 anos em Londres), e as coisas que sinto necessidade de dizer hoje são diferentes das que tinha a quase vinte anos atrás. Esse processo, inserir letras em melodias compostas originalmente em inglês, não foi nada fácil e me consumiu muitas horas de trabalho.

Além disso, eu havia recém voltado a tocar guitarra elétrica depois de quase 10 anos tocando somente violão. Voltei a estudar e tocar diariamente, isso me trouxe alguns problemas físicos na mão como tendinites, inchamento nas juntas da mão e etc… Hoje, depois de muita fisioterapia, infiltrações, e idas à diferentes profissionais de saúde, aprendi que devo tomar precauções, como alongamentos e aquecimento, e também faço a terapia do gelo diariamente… Este problema na mão me dificultou muito a execução das músicas, pois sempre precisava de muito aquecimento até que me sentisse apto a tocar, e ainda assim, tocava sentindo dores… Até hoje persistem alguns problemas em minha mão esquerda, mas tento apaziguá-los com tratamento e prevenção…

O terceiro e grande motivo da demora para o lançamento deste álbum, foi a pandemia. No início de março de 2020, o disco estava praticamente pronto, e então, tudo parou. E o que se seguiu foi um espetáculo de horrores perpetrado pelo atual (des)governo e suas ações negacionistas, criminosas e cruéis. A pandemia que atacou o planeta inteiro matando milhares e milhares de pessoas mundo afora, não foi motivo suficiente pra que se desse uma atenção especial a este problema por parte do atual presidente e de seus desastrosos ministros e equipe. Pelo contrário, a pandemia foi ridicularizada e ainda usada como meio para se ganhar mais dinheiro de forma criminosa, como a CPI do Covid está evidenciando a cada dia. O que se tem apurado é de repugnar o estômago e perder a esperança na humanidade, mas seguimos com fé na luta, afinal existe muita gente boa e honesta lutando por um mundo mais justo e possível, uma vez que o caminho que estamos trilhando com o neoliberalismo, capitalismo e patriarcalismo está nos levando a passos largos a destruição do nosso planeta, e tudo isso à custa de muito sofrimento e dor da grande maioria dos seres humanos… Como escreveu Fritjof Capra em O Ponto de Mutação, livro escrito durante a década de setenta e que levou 10 anos para ser concluído, mas que ainda é muito atual; chegamos num ponto no qual existem somente dois caminhos: ou mudamos nossa visão de mundo e a partir daí construímos um novo futuro, através de conscientização e preservação do biossistema terrestre, respeito mútuo e respeito as diversidades, solidariedade, busca e uso de soluções energéticas autossustentáveis, mudança de paradigma de ganha/perde para ganha/ganha, desaceleração do consumo exagerado, irresponsável e inútil e outras ações; ou caminharemos cada dia mais rapidamente para a destruição de todo o ecossistema terrestre, assim como o conhecemos e, consequentemente, toda a humanidade…

Estes foram os principais motivos que fizeram com que Mientras La Noche Cae fosse lançado somente em outubro de 2021… É claro que aliado ao que foi dito acima, juntaram-se toda uma sorte de situações decorrentes da falta de segurança, da falta de dinheiro, da falta de trabalho decorrentes de quase dois anos sem apresentações presenciais, nossa principal fonte de renda como artistas…

O que importa, é que hoje estamos muito felizes e gratos ao Universo porque apesar de tantas forças agindo na direção contrária, conseguimos superá-las com amor e fé, consciência e solidariedade, esforço e apoio de tanta gente querida, e o disco finalmente nasceu para o mundo e os ouvidos de quem puder e tiver a sorte de ouvir…

E agora? Qual o próximo passo? Ainda estamos nas tratativas para um lançamento do álbum de forma presencial, com a banda, assim que tivermos novidades falaremos aos quatro ventos… Enquanto isso, o próximo disco, o quarto, já está em processo, mas isto é assunto para daqui a pouco…

Luciano Alves, compositor e músico

Foto: Amanda Gatti